14/07/2005

De picaretas e publicitários

O mais chato de tudo é ter de ouvir certas piadinhas. Sim, porque, para meu infortúnio, sou: publicitário, mineiro e careca. Eu, que já tive que, durante anos, agüentar ser chamado de André Cajarana por causa de uma novela, agora sou obrigado a ouvir: "publicitário, hein? Mineiro, hein? Careca, hein?". Deixo aqui o meu protesto e, mesmo sem precisar, me defendo: sou mais publicitário que o tal Valério já que, até onde se sabe, nunca escreveu nem anúncio em obituário. Sou calvo, não sou careca. Ele, sim, que tem cabeça de ovo e, pelo mostrado na tv, lavada com óleo de peroba. E, bem, sou mineiro, sim, mas de Niterói, que fica no Rio de Janeiro. Não, não estou renegando minha mineirice, muito ao contrário: o tal Marcos Valério é que deve ser um mineiro paraguaio, tão falso que é incapaz de assumir uma calvície e raspa a cabeça para parecer que é careca por estilo. Sou um mineiro que nasceu por acidente do lado de fora das montanhas mas carrego, no DNA (caramba, essa é uma empresa do talzinho), o gene que me faz salivar diante de um pedaço de queijo, que me faz acreditar que o mundo não é redondo e achatado nos pólos, mas montanhoso e com cachoeiras nas bordas, que me faz dormir sonhando em acordar em uma piscina de doce de leite e que provoca reações cardíacas inexplicáveis em dia de Cruzeiro x Atlético.
Longe de mim, ainda, querer defender uma classe. Não sou homem de classes. Posso até ser classudo, dependendo do ponto de vista e apesar disso gerar muita controvérsia. Mas não creio em corporativismos nem em intransigentes posições acima do bem e do mal quando se trata de elogiar, criticar ou analisar quem quer que seja. Mas me sinto, por força das amizades que tenho no meio, com a obrigação de dizer que Marcos Valério não é publicitário. A profissão dele é outra: picareta. Favor não confundir as coisas. Picaretas existem em todos os meios, em todas as classes. Na publicidade existem muitos. Conheço vários, apesar de nunca ter visto antes um tão picareta quanto o Valério, que parece ser algo assim um João Paulo II da picaretagem. Eles são conhecidos por ganharem muito dinheiro mesmo sem serem diretores de arte, nem redatores, nem mídias, nem atendimentos, gente que trabalha duro, na maioria das vezes, por salários tão baixos quanto os de profissionais de qualquer setor. Marcos Valérios não sabem o que é publicidade: sabem o que é dinheiro fácil, de origem duvidosa e o que é esquema. É fácil reconhecer um Marcos Valério: gostam de andar de jatinho emprestado, não adotam posições ideológicas, acham lindo jantar em restaurantes finos com companhias importantes para contar aos amigos e serem vistos pelos concorrentes, adoram presentear secretárias de senadores e juram, de pés juntos, não serem mercenários: são profissionais. Como se profissionais não tivessem que ter, como premissa básica para assim serem vistos, caráter, ética e respeito. Então, por favor, parem com as galhofas contra publicitários. É melhor prestar atenção aos sinais exteriores de marcosvalerice e não misturar alhos com bugalhos. Antes de mais nada, vamos deixar de chamá-lo de publicitário. E também de empresário, gente que, em sua maioria, trabalha e produz. Pensando bem, melhor nem chamá-lo de cabeça de ovo, o que é um desrespeito aos ovos.
Vamos chamá-lo mesmo de picareta, desonesto, patife, mentiroso. É muito mais adequado.

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